a partir de Paul Auster
Encenação Sandra Faleiro
Adaptação Emília Costa
Interpretação André Levy, Cristina Carvalhal, Rogério Vieira
Estreia Teatro da Trindade – sala estúdio, 11 de Novembro de 2006
A vida errante de Mr. Bones, cão de raça indefinida, de peculiar inteligência e sensibilidade, confidente e psicólogo da natureza humana; e de seu dono Willy, vagabundo, poeta, discípulo do Pai Natal, pregador do Bem; até ao derradeiro destino: Timbuktu – o Paraíso das Almas.
Uma história sobre o abandono dos seres vivos que nunca deveria acontecer.
Rogério Vieira
Nunca tive um cão. E portanto nunca acreditei muito nisso de que os cães tinham alma. Depois de ler o Timbuktu nunca mais olhei para um cão da mesma forma, é verdade, mas algo mais tinha mudado. E este espectáculo teve um efeito semelhante em mim, relativamente ao teatro, não me quero esquecer da essência deste processo.
Cristina Carvalhal
Como chegar ao mais profundo e incomunicável do nosso ser? Ultrapassar os nossos sonhos e demónios, devaneios e desilusões, ódios e amores, e chegar ao mais genuíno e puro da nossa interioridade? Talvez na entrega ao processo de ensaio, numa sala despojada, munidos de um texto rico, entre o desafio e protecção de companheiros de viagem. Ou numa brincadeira com uma criança. Um passeio com um cão. O seu olhar atento penetra-nos por vezes como uma agulha. Não admira. Há 100 mil anos quando a nossa espécie saiu de África, talvez de Timbuktu, e iniciou a sua migração pelos continentes do mundo, ao seu lado já estava esse companheiro de viagem, o cão.
André Levy
E, assim, de repente, de um dia para o outro, onde não havia mais do que uma ideia, uma vaga proposta, de repente, de um dia para o outro, surgiu um texto para teatro, um conjunto de actores, uma voz nas palavras escritas, um movimento nos corpos, um som musical, uma luz nos projectores, uma encenação. E, assim, de repente, de um dia para o outro, de uma ideia, de uma vaga proposta, surgiu o espectáculo.
Um homem, um cão, um homem e o seu cão, a mãe e a antiga professora. Três actores, um espaço cénico despojado, e a grandiosidade de um homem que não passa de um vagabundo.
Quando um homem é demasiado grandioso para o mundo que o rodeia se calhar é inevitável ter de partir. Para Timbuktu. Morrer não é nada do outro mundo.
Emília Costa